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domingo, 7 de novembro de 2010

Diagnóstico malfeito banaliza tratamento para déficit de atenção

Venda de remédios para a doença aumentou 1.616%; especialistas apontam dificuldades no diagnóstico


O medicamento usado no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) - vendido como Ritalina (Novartis) e Concerta (Jassen-Cilag) - está entre as substâncias controladas mais consumidas no País. Entre 2000 e 2008, o número de caixas vendidas passou de 71 mil para 1,147 milhão - aumento de 1.616%. A alta no consumo suscitou questionamentos sobre a banalização do uso do remédio à base de metilfenidato entre crianças e adolescentes.


Alguns especialistas apontam a demanda reprimida por um tratamento que existia e ainda existe no Brasil como causa do inchaço nas vendas. Para outros, é resultado de diagnósticos malfeitos - crianças que não se encaixam no padrão de aprendizagem e comportamento estariam sendo "domadas" à base de psicotrópicos.


O que alimenta ainda mais a polêmica é a dificuldade de diagnosticar o TDAH. Não há um exame definitivo. Os médicos se baseiam em relatos subjetivos de pais e professores sobre o comportamento da criança e num questionário com 18 sintomas relativamente comuns entre jovens, como falar em demasia, interromper conversas e dificuldade para esperar.
"O diagnóstico deve ser feito por um médico treinado e envolve outros especialistas, como psicólogo, psicomotricista e fonoaudiólogo. É preciso descartar outros problemas que afetam o comportamento e o aprendizado", explica o psiquiatra infantil Francisco Assumpção, da Universidade de São Paulo (USP). "Mas muitas vezes os critérios são preenchidos pela própria escola ou até mesmo pelos pais, que me procuram apenas para pedir o remédio."


O analista legislativo Luís Fernando Leite dos Santos conta que sua filha de 16 anos foi recentemente diagnosticada como portadora de TDAH por ter apresentado alterações de humor e queda de rendimento no último bimestre escolar. "Embora o relatório da escola afirmasse que o nível de dispersão nas aulas não era tão relevante, o médico receitou o remédio e ainda disse que eu poderia pegá-lo no posto de saúde", diz o pai, inconformado.

No caso do garoto João Petrika, de 12 anos, a simples mudança de escola fez milagres. Há cerca de quatro anos ele foi diagnosticado como hiperativo e ingressou num programa de tratamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Fez terapia e tomou remédios. Mas o desempenho escolar só melhorou neste ano. "Antes ele evitava a escola. Agora que mudou de colégio, tem apenas três faltas", conta o pai Antonio Petrika. Há dois anos sem remédios, João tem outra explicação: "Gosto mais desta escola porque os professores são melhores. Na anterior, gritavam o tempo todo."


O TDAH é um dos transtornos mentais mais comuns em crianças e se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Estudos indicam que a prevalência na população é de 5%. Isso significa que numa sala de aula com 40 alunos, pelo menos 2 teriam a doença. "A dificuldade de aprendizado passou a ser sinônimo de problema com a criança, quando às vezes é da escola", afirma Assumpção.

Pais têm dificuldades de impor limites aos filhos


É na escola, onde a criança desenvolve grande parte de seu processo de socialização, que o uso da Ritalina vem sendo mais percebido. A reportagem ouviu relatos de educadores que confirmam a incidência do uso do medicamento em até 18% dos alunos de uma mesma sala de aula. Para os professores, há casos em que o remédio é realmente necessário - nos de alunos hiperativos -, mas a banalização é uma realidade. "A causa é o imediatismo de muitos pais e neurologistas, que querem medidas rápidas", afirma Raquel (nome fictício), de 48 anos, professora de ciências de uma escola particular de classe média alta.

Alguns educadores dizem que o uso indiscriminado do remédio está vinculado à dificuldade que algumas famílias têm de impor limites aos filhos. "É comum ouvirmos ‘não sei o que faço com meu filho. Ele toma medicação, mas não sei o que fazer’", conta Isadora (nome fictício), de 43 anos, professora de história do ensino fundamental. "Ouço pais falando ‘meu filho tem 13 anos e mudou muito. Vou levá-lo ao neurologista e ao psiquiatra.’ Ele tem 13 anos, é claro que mudou: é a idade de ser agitado", diz a professora de história Larissa (nome fictício), de 32 anos. "Se criassem uma escola que ensinasse os pais a educarem as crianças, seria um sucesso. Muitos priorizam a carreira e, quando percebem mudanças nos filhos, decidem levá-los ao médico."


As escolas ouvidas afirmam não ser contra o medicamento - o desafio é mostrar aos pais que é possível tentar métodos menos invasivos, como terapia e atividades físicas.

Esse foi o caminho escolhido pelo pediatra da Unifesp José Artur Medina, pesquisador do TDAH, que convive com o transtorno na família. Além dele próprio, seu pai e seu filho são portadores. "Já fui reprovado, preso, me envolvi com drogas. Cheguei a experimentar Ritalina e notei um ganho cognitivo. Mas muda a personalidade", diz. Para o filho de 5 anos, Medina receitou suplementos de ômega 3 e aulas de judô. Exercícios físicos, diz ele, estimulam uma parte do cérebro menos desenvolvida em crianças com TDAH e isso proporciona grande melhora.


A pediatra Maria Aparecida Moyses, da Universidade Estadual de Campinas, também critica a padronização do pensamento e aprendizado. "Nós não somos assim."

Um comentário:

  1. Tenho um filho lindo, hoje com sete anos que a mim obedece è claro que as vezes apenas com uma repreensão um pouco mais severa, mas na escola, durante o jardim I foi muito bem com um pouco de agitação, no ano passado já no primeiro ano, mais agitado porém muito esperto, sempre terminava as tarefas antes dos outros e a professora disse que precisava ter algo extra para que ele fizesse e desse tempo dos colegas terminarem. Nesse ano telvez por uma antipatia de ambos, o relacionamento aluno/professora está conturbado. Meu filho não conseguiu conquistar a professora e ela por sua vez também não, ela sendo adulta e educadora, não deveria ter perdido o controle algumas vezes. Só fez me chamar e reclamar, sendo que no início do ano eu estive com ela e a alertei sobre a inquietude dele. Nem passou pela minha cabeça que deveria ser tudo perfeito ou que por isso eu não seria chamada na escola, apenas gostaria que ela usasse de diferentes métodos para contê-lo e conquistá-lo. Ela simplesmente desistiu e deixou isso bem claro. Ele muito inteligente percebeu e sentiu isso. Agora só estou esperando encerrar o ano letivo para acabar com a tortura. Ela disse e fez coisas p ele, e ele na inocência me contou. Eu sem que ele soubesse para não sentir-se fortalecido fui na escola e conversei, mas nunca colocando a minha real forma de pensar, pois não quero que ela pegue no pé dele porque ele não entende sua ironia e não sabe se defender. Mas como boa mãe que sou, estou aqui para isso, é claro que dentro do que é certo.

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